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07/03/2025 16:40
Atenção à Clínica com Crianças

Artigo da Dra. Scarlett Richter Bertoglio

A intenção maior encontra-se na expressão por meio da escrita, a leitura valerá aos interessados da infância. Protegei-vos nossas crianças das sombras dos adultos, pois cabe a estes o discernimento. Aponto a importância dos significantes sociais no desenvolvimento de nossos pequenos, que refletem na estruturação familiar contemporânea e na condução do cuidado prestado na clínica. Na dinâmica dos atendimentos um dos principais propósitos está na diferenciação do sintoma “na criança” com o “da criança”. Na primeira situação o discurso evidencia uma queixa ou um sofrimento que não é da criança, sintomas atribuídos a ela por redes de significantes parentais, morais e sociais. Enquanto no segundo a nomeação e representatividade dos sintomas se dá pela própria criança no seu próprio tempo.

O papel do profissional na clínica com crianças está em tecer cautelosamente um espaço para que ela consiga se representar subjetivamente e nomear seus sintomas, o que geralmente não acontece de imediato. Trata-se da arte da costura pela maestria fio a fio amplificar as verdades impostas. Por outro ângulo, nos deparamos com a via da resolução pelo imediatismo em diagnosticar, solucionar, curar. Imposição posta na contemporaneidade, que surge como demanda por vias múltiplas de saberes, de sujeitos, de instituições, que em alguns casos se ausentam da responsabilidade do olhar ampliado da oferta, do cuidar, do tolerar. E os sintomas nomeados por outros, não pela criança, nos direcionam à busca pelo cessar, encaixar no “dizível”, enquadrá-la em uma demanda não dela.
Me questiono, se talvez, façamos desse processo, atualmente, uma demanda social com consequência à não permissão de ser – ser sujeito psíquico de sua própria morada, que nomeie e consiga se representar pela própria linguagem e para além dela. Para isso, a nós como sociedade, instituições, profissionais portadores de conhecimento nos cabe cada vez mais preservar e tolerar o desconhecido, aquilo que não pode ser dito e por vezes nem representado, pois de categorização estamos completos, literalmente da cabeça aos pés. Abrimo-nos permissão, então, para que nossas crianças possam ser sujeitas, se permitirem ser sem culpa e sem padronização. Somente quando nos permitirmos divergir é que possibilitaremos à clínica das crianças e dos adultos se constituir e se desenvolver através do ser: ser sujeito próprio.

Scarlett Richter Bertoglio
Médica Psiquiatra (CRM 43.074 / RQE 32.129);
Atendimentos na Clinimed em Umuarama e PsicoClínica em Palotina (instagram: @ameespaco / @psicoclinica).

Fonte: Scarlett Richter Bertoglio Crédito: Divulgação


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